sábado, 30 de janeiro de 2016

Leia os Três Primeiros Capítulos do Livro O Destino de Uma Dama


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Por esse motivo, resolvi colocar os três primeiros capítulos aqui no blog para vocês degustarem antes de ir ao site da Amazon e comprar o livro e devorá-lo por inteiro.

Vamos começar....


                     A Despedida da Fazenda

   Inglaterra, Julho de 1744

   Sentia em meu peito que aquela seria a última vez que veria a casa onde morei toda a minha vida com os meus avós. Meu co­ração estava em pedaços por ter que deixar uma vida que tanto amava. Queria que tudo voltasse a ser como antes, queria poder ter novamente ao meu lado as duas pessoas que mais amava nessa vida. Gostaria de passear a cavalo com meu avô, ouvir as histórias que minha avó contava. Eu sabia que tinha um pai que vivia em Londres, mas jamais imaginei que um dia teria que viver com ele. Sempre olhei para a fazenda Wellington como um lar permanente. O que fazer para não ter que partir?
       ― Srta. Canning, temos que partir. A senhorita está parada em frente à casa por muito tempo. ― O Sr. Smith disse paciente. ― O Sr. Lewis deu ordens para não viajar com a senhorita durante a noite, se quisermos chegar na hospedaria antes do anoitecer temos que partir agora. Por favor, senhorita, entre na carruagem ― começava a perder a paciência. ― Sei que deve estar sendo difícil para a senhorita tudo o que está acontecendo, mas mudanças sempre acontecem em nossas vidas, e mais tarde vemos que essas mudanças foram para melhor ― disse como se tivesse conhecimento no assunto.
       ― Eu não quero essa mudança, Sr. Smith. Morei minha vida toda nessa casa, não quero ir embora ― continuei olhando para a casa.
    Olhava para a casa e memorizava cada detalhe dela. Já tinha olhado aquela casa tantas vezes, mas nunca imaginei que um dia a olharia pela última vez.
       ― Agora a senhorita vai morar com seu pai em Londres, ele cuidará da senhorita. Agora vamos, por favor.
       Virei e olhei para o Sr. Smith. Ele estava em frente à porta da carruagem que estava aberta esperando por mim. Sua paciência chegara ao limite, era o momento de entrar na carruagem. Era hora de terminar com todo aquele sofrimento. Olhei para a casa pela última vez. Me forcei a entrar na carruagem, o Sr. Smith me ofereceu a mão e me ajudou a entrar. Logo depois que ele entrou a carruagem partiu. Olhei pela janela e vi os criados enfileirados em frente à porta da casa observando minha partida, todos pareciam tão tristes. Aquelas pessoas me viram crescer, pessoas que eu amava como uma família, eu jamais os esqueceria, me lembraria de cada rosto, de cada momento que tinha passado ao lado daquelas pessoas, eu as levaria em meu coração. Lágrimas se formaram em meus olhos, mas não as deixei cair. Naqueles dois últimos meses já tinha chorado demais pela morte da minha avó. Afastado da casa, vi Parker Bungard, meu melhor amigo, meu companheiro de tantas aventuras, eu o amava como a um irmão. Sentiria tanto a sua falta. Enquanto a carruagem se afastava, ele ficou olhando para ela, havia uma profunda dor em seus olhos. Eu jamais esqueceria aquela dor em seus olhos. Vi quando seu pai, o Sr. Davis Bungard, ficou ao seu lado e colocou a mão em seu ombro para consolá-lo. Sorri ao pensar em tantos momentos felizes que passei nos estábulos ao lado dos dois. Momentos que jamais voltariam a acontecer.
       Pela janela eu via a casa se afastando, eu via a minha vida se afastando. Quando passamos pelos portões da fazenda, minha vontade foi de sair daquela carruagem e voltar correndo para a casa, me trancar em meu quarto e nunca mais sair de lá. Tive que segurar no banco da carruagem para não fazer o que meu coração mandava. Me senti tão sozinha naquele momento. Eu sabia que sempre estaria sozinha daquele dia em diante.
       ― O Sr. Lewis está esperando pela senhorita amanhã logo pela manhã, por isso não podemos nos atrasar.
       O silêncio foi quebrado pelo comentário do Sr. Smith. Voltamos a ficar em silêncio por um tempo. Continuei olhando pela janela. De repente a imagem do meu pai veio em minha mente. 
       ― Como é o meu pai, Sr. Smith? ― olhei para ele.
       ― Um homem muito bom e generoso, senhorita.
       Voltei a olhar à paisagem pela janela. Dizer que ele era bom e generoso não me dizia nada. Muitos homens eram bons e generosos por fora, mas cruel e malvado por dentro. Tentei me lembrar do homem que era o meu pai, mas era difícil imaginá-lo, só tinha convivido com meu o pai durante os meus primeiros três anos de vida e desse tempo eu não lembrava nada. Quando fiz quinze anos, ele apareceu na fazenda dizendo que me levaria para Londres para que eu fosse apresentada na sociedade londrina, e que já estava na hora de arrumar um marido. Isso era o que ele pensava. Mas, os meus avós pensavam diferente, por isso, não deixaram que ele me levasse. Até hoje não sei como eles conseguiram fazer com que ele mudasse de ideia. No dia seguinte ao acordar, soube que meu pai tinha ido embora, e nem esperou para se despedir de mim. Não me importei com sua partida, não queria ir com ele para Londres, fiquei feliz ao saber que ele tinha ido embora. Um ano depois meu avô morreu, um momento muito difícil para minha avó e eu. Meu avô tinha ido caçar com alguns amigos das redondezas, como fazia todos os anos. Eles pegaram um forte temporal, o que não era comum naquela época. Meu avô voltou da caça muito doente, com um forte resfriado que tomou conta dos seus pulmões e que logo o matou. Dias depois, meu pai apareceu novamente na fazenda e conversou com minha avó. Soube através de Polly, que ele queria me levar novamente para Londres e me casar. Disse a Polly que não iria, mas ela disse que ele era meu pai e tinha todo o direito de me levar e fazer comigo o que quisesse, ao ouvir aquilo eu senti um grande ódio por ele. Eu ouvi minha avó gritando, mas não entendi sobre o que eles discutiam. Novamente ele concordou em me deixar na fazenda com ela, novamente saindo sem se despedir. Mas agora, dois anos depois do meu avô morrer, ele conseguiu o que tanto queria. Agora que minha avó tinha morrido, não tinha ninguém para lutar por mim, eu estava sendo obrigada a ir para Londres para viver com o meu pai.
       Antes do meu encontro com ele aos quinze anos. Eu vivi com o meu pai até os meus três anos quando minha mãe era viva. Dois meses depois da minha mãe morrer, meus avós me levaram para viver com eles na fazenda. Não lembro nada da minha mãe, mas meus avós sempre falavam que ela me amava muito e que era uma mulher muito bonita. Eles não falavam sobre o meu pai, eu também não perguntava, não queria magoá-los fazendo-os pensar que eu amava mais a meu pai do que a eles, meus avós eram a minha vida, e deu todo o amor que uma menina podia ter. Ao lembrar deles uma forte dor apertou meu peito.
      ― Uma vez minha avó disse que meu pai era um homem muito ocupado. Ele continua muito ocupado, Sr. Smith? ― perguntei, olhando a paisagem pela janela.
       ― Continua, senhorita. Seu pai é um homem muito ocupado, tem muitos negócios na cidade e fora dela. O seu pai é um ótimo advogado, está sempre ocupado.  
       ― Vejo que o senhor tem uma grande admiração por ele.
       ― Tenho sim, senhorita. Tudo o que sei e o que sou eu devo ao seu pai. A senhorita viveu muito tempo longe dele, quando o conhecer melhor verá que o que eu digo é verdade.
       ― Se ele é um homem tão ocupado, ele podia ter arrumado uma outra maneira de pagar as dívidas do meu avô e ter me deixado na fazenda. Por que querer mais um problema?
      ― A senhorita não é um problema para o seu pai. Ele tem planos para a senhorita... O seu pai vai casá-la.
       ― Mas eu pensei que ele fosse esperar mais alguns anos para me arrumar um marido. Não posso me casar agora, estou de luto pela minha avó.
       ― A senhorita já devia estar casada, já tem dezoito anos ― disse como se eu fosse uma velha. ― O Sr. Lewis teve muitas propostas de casamentos de várias família de Londres. O Sr. Lewis é um homem muito respeitado na sociedade londrina. Ele poderia já ter escolhido um noivo para a senhorita, mas ele achou melhor que a senhorita mesmo escolhesse seu pretendente, por isso a senhorita vai nessa temporada de bailes, para escolher um pretendente.
       ― Muita generosidade do meu pai deixar que eu mesma escolha o meu marido.
      ― Eu disse que seu pai era um homem muito generoso ― disse sorrindo.
       Balancei a cabeça e pensei que talvez a palavra sarcasmo não fizesse parte do vocabulário do Sr. Smith.
       Voltei a olhar pela janela. Quando tinha três anos meu pai livrou-se de mim ao me entregar aos meus avós, e agora novamente se livraria me entregando ao meu futuro marido. Fechei os olhos e suspirei, eu tinha sido muito feliz da primeira vez, esperava que fosse assim também da segunda vez.
       Depois de algum tempo olhando pela janela e pensando em como minha vida mudaria quando chegasse em Londres. Voltei a olhar para o Sr. Smith. Ele olhava para alguns papeis em suas mãos. Ele era um homem baixo, quase da minha altura, que era uma estatura mediana. Ele era um homem sem nenhum atrativo, tinha uma testa alta e o nariz muito pontudo. Era um pouco nervoso, tudo tinha que estar no lugar certo e na hora certa.
       O Sr. Peter Smith chegou na fazenda com a missão de me levar para Londres em até três dias. No começo eu me recusei.
       ― Srta. Jennifer.
       A cama estava tão agradável naquela manhã de verão, que não tive nenhuma vontade de sair dela. Eu já tinha ouvido Polly me chamar nas duas primeiras vezes, mas me recusei a atendê-la, não queria sair do meu refúgio, queria continuar dormindo para não lembrar que agora estava sozinha no mundo. Minha avó tinha morrido há dois meses, e a dor ainda era a mesma.
       ― Srta. Jennifer ― chamou Polly impaciente. ― Sei que a senhorita está acordada. A senhorita tem que levantar, tem uma visita. Está lá em baixo esperando.
    Polly era minha dama de companhia desde os meus 14 anos. Meus avós não viam com bons olhos minha amizade com Parker, por isso contratou Polly para que eu passasse menos tempo com Parker e os cavalos. Mas sempre eu deixava Polly com o Sr. Davis nos estábulos e saía para ca­valgar com Parker. Polly sempre dizia para meus avós que tinha passado o dia inteiro comigo. Durante esses anos nossa amizade cresceu muito. Ao me tornar amiga de Polly, passei a reservar algumas horas do dia só para nós duas. Polly era loira de olhos azuis. Ela era bem magra, sempre impli­cava com ela dizendo que qualquer ventinho a levaria embora. Eu gostava muito de Polly. Estava sempre procurando um pretendente para ela, mas ela dizia que só se casaria depois que eu me casasse.
      ― Não, Polly. Não vou me levantar. Estou cansada de ouvir tantos pêsames, estou cansada que todos me lembrem a todo momento da morte da minha avó ― disse debaixo das cobertas.
      ― Mas senhorita, as pessoas só querem confortá-la ― disse Polly docilmente. ― Mas eu acho que o cavalheiro que está lá embaixo não veio para lhe confortar sobre a morte da sua avó, ele disse que vem de Londres.
      Rapidamente tirei com alguma dificuldade as cobertas de cima da minha cabeça e olhei para Polly com os olhos arregalados.
       ― Meu pai está lá embaixo?
       ― Não é o seu pai senhorita, eu o conheço. Mas o cavalheiro disse que veio em nome do seu pai.
       Me levantei rapidamente da cama.
       ― Ajude-me, pegue um vestido, Polly.
       Fui até a bacia com água e lavei meu rosto. Em pouco tempo estava vestida para saber quem era o cavalheiro que estava a minha espera. Dois meses atrás meu pai esteve na fazenda para o enterro da minha avó, depois ficou uns dois dias para a leitura do testamento. Enquanto esteve na fazenda quase não conversamos. Eu ficava o tempo todo chorando em meu quarto e ele ficava o dia todo na cidade tratando de negócios. Depois de dois dias mandou me chamar e disse que tinha que ir para Londres para resolver alguns assuntos, mas que voltaria para conversarmos. Agora, depois de dois meses, manda alguém em seu lugar.
       Ao entrar na sala, vi o cavalheiro em pé a minha espera. Ele não era o que eu esperava. Sempre imaginei que todos os homens londrinos fossem lindos e charmosos, como meu pai, mas o cavalheiro que estava em minha frente não era nenhuma coisa nem outra. Estava muito bem vestido, no momento que entrei estava ajeitando sua peruca, seu chapéu estava embaixo do seu braço. Ao me ver parada na porta, consertou-se e fez uma mesura.
       ― Sou Peter Smith, secretário do Sr. Lewis Canning, aos seus serviços. Vim a mando dele para levá-la para Londres.
       ― Me levar para Londres? Para quê? ― perguntei antes mesmo de cumprimentá-lo.
       ― Para morar com o Sr. Lewis em Londres, senhorita. Temos três dias para partir. Creio que três dias serão suficiente para que a senhorita arru­me suas coisas.
       ― Não irei para Londres, Sr. Smith. Aqui é minha casa, continuarei morando aqui.
       ― Senhorita Canning ― disse bem devagar. ― Essa casa não pertence mais a senhorita.
       O olhei sem entender.
       ― O que está dizendo?
       ― O Sr. Lewis precisou vender esta propriedade para pagar algumas dívidas que o Sr. Jackson Wellington deixou.
       ― Não pode ser, minha avó nunca disse nada sobre dívidas. Isso só pode ser um engano.
       Aquela conversa me deixou muito nervosa, comecei a andar de um lado a outro da sala. O Sr. Smith continuou parado com os braços cruzados atrás das costas, me olhava com um semblante muito calmo, o que me deixou ainda mais nervosa.
       ― Não vou sair da minha casa, Sr. Smith. Volte para Londres e diga isso ao meu pai.
       ― A fazenda já foi vendida, senhorita ― disse calmamente.
       Aquela calma estava me deixando louca.
       ― Por que meu pai não veio pessoalmente me contar isso?
       ― Ele queria senhorita, mas foi obrigado a fazer uma viagem...
       ― Para onde? ― o interrompi.
       ― O Sr. Lewis teve que viajar para a França, por motivos de negócios.
       ― Para quem ele a vendeu? Não pode ter sido para alguém da região senão eu saberia.
       ― Não foi para ninguém da região, senhorita. ― Senti que aquela conversa estava cansando o Sr. Smith, mas eu tinha que saber quem era o novo dono da fazenda. ― Foi um cavalheiro de Londres.
       ― De  Londres?...  Ele não podia fazer isso. Minha avó disse que a fazenda seria o meu dote.
       ― Não preocupe-se com isso, senhorita. O Sr. Lewis cuidará disso.
      ― Não vou sair daqui ― disse olhando diretamente em seus olhos.
       Ele aproximou-se de mim andando com as mãos ainda para trás, e disse calmamente:
       ― O Sr. Lewis viajou para França e deixou uma ordem para que eu a levasse para Londres em até três dias, e é o que farei ― deu aquela conversa por encerrada. ― Agora a senhorita poderia pedir algum criado que me levasse até os meus aposentos, gostaria de descansar um pouco.
       Olhei para ele furiosa, saí pisando fundo e fui em direção ao estábu­lo. Deixei o Sr. Smith sozinho na sala, ele que procurasse pelo quarto sozi­nho. Quando entrei no estábulo Parker estava arrumando os fenos. Parker era o filho do Sr. Davis Bungard, o chefe do estábulo. Eu e Parker éramos muito amigos, nos conhecíamos desde criança.
       ― Onde está o Sr. Valente, Parker?
       ― Está lá fora, meu pai o está exercitando. Algum problema, Jennifer?
       ― Não, eu só quero dar uma volta com ele.
       ― Quer companhia?
       ― Não, Parker. Hoje quero cavalgar sozinha.
       ― Quer que eu pegue o Sr. Valente para você?
       ― Não, eu vou até lá.
       Fui até onde o Sr. Davis exercitava os cavalos. Abrir o portão e fui até ele.
       ― Senhor David, vou sair com o Sr. Valente.
       ― Espere um pouco, Srta. Jennifer, vou mandar que Parker o sele.
       ― Não precisa, Sr. Davis, vou montá-lo assim mesmo.
       ― Mas Srta. Jennifer, sabe que sua avó não gostava que a senhorita montasse o Sr. Valente em pelo.
       Montei no Sr. Valente.
      ― Não se preocupe, Sr. Davis, já montei assim muitas vezes. Não vou demorar. Abra o portão para mim.
       Assim que o Sr. Davis abriu o portão, apertei os flancos do Sr. Valente e saí em disparada para as colinas. O Sr. Valente era um cavalo selvagem, de cor marrom avermelhado, seu pelo brilhava na luz do sol, o que acontecia naquele momento, seu pelo era liso e macio. Quando chegamos no topo da colina, que ficava dentro da propriedade do meu avô, paramos. Fiquei em cima dele olhando a fazenda. De onde estávamos dava para ver quase toda a fazenda. Olhei para a casa e lembrei dos anos que passei com os meus avós, dos jantares que minha avó fazia para o Rev. Maicon, as festas dos meus aniversários e as reuniões para as senhoras de Thirsk. Como que de uma hora para outra eu teria que deixar tudo aqui­lo?
       ― Por que foi morrer, vovó? Como posso lutar contra isso? Me ajude.
       Com lágrimas nos olhos, abracei o pescoço do Sr. Valente me sentin­do derrotada. Eu não podia fazer nada, meu pai já tinha vendido a fazen­da, agora eu teria que me conformar e ir embora para Londres.
       O Sr. Smith fez o que meu pai lhe ordenou. Aqui estou eu, dentro de uma carruagem indo para Londres. Ele podia ser uma homem baixo e sem atrativos, mas era muito determinado em seguir todas as ordens do meu pai.
       ― Quanto anos tem, Sr. Smith? ― perguntei alto o assustando. ― Desculpe se o acordei ― disse disfarçando um sorriso.
       ― Eu não estava dormindo, apenas pensando de olhos fechados.
       ― Sim, sei ― tentei não ri. ― Eu lhe fiz uma pergunta, Sr. Smith.
       ― Desculpe, senhorita. Qual foi a pergunta?
       ― Perguntei quantos anos tem?
       ― Vinte e quatro, senhorita.
       ― O senhor é casado?
       O Sr. Smith ficou encabulado com minha pergunta, o que me diver­tiu ainda mais.
       ― A senhorita é sempre tão direta?
       ― Às vezes não. O senhor é casado?
       ― Não, senhorita. Ainda espero aprender um pouco mais com o seu pai. Depois que aprender tudo o que puder, me casarei.
       O restante da viagem foi feito em silêncio. Quando chegamos na hospedaria da cidade de Belford, há muito já tinha escurecido, o que fez o Sr. Smith me olhar de um modo zangado por causa do percurso que tivemos que fazer durante a noite, o que aconteceu por causa da minha demora em deixar a fazenda.
       Ao chegarmos na hospedaria o jantar já tinha sido servido. O Sr. Smi­th teve que dar algumas moedas a mais para que a cozinheira esquentasse algo para comermos. Depois que comemos fomos para os nossos quartos. Continuamos a viagem bem cedo pela manhã.
       Antes de subir na carruagem, olhei para a estrada, Thirsk tinha ficado para trás, eu jamais voltaria a ver a fazenda dos meus avós novamente.
    Estava tão aborrecida com tudo o que estava acontecendo que não conversei mais com o Sr. Smith. Naquela manhã fui obrigada a aceitar a ajuda de uma criada da hospedaria pois não pude levar Polly comigo. O cavalheiro que comprou a fazenda fez questão de manter os empregados, pagando um pouco a mais para ter o que queria. Sempre tive Polly como minha criada, não sabia se me acostumaria com outra. Polly era minha amiga, sem ela eu me sentiria muito sozinha. Às vezes eu pensava que es­tava vivendo um pesadelo. Até o Sr. Valente tive que deixar na fazenda, o meu pai também o vendeu para o homem que comprou a fazenda. Ao sa­ber daquilo tive tanto ódio dele. Como ele pôde vender algo que não lhe pertencia? Foi muito difícil me despedir do Sr. Valente, ele estava comigo há sete anos, era um amigo para todas às horas, quando estava com raiva, era só cavalgá-lo que eu me acalmava. Havia me separado de tudo e de to­dos que eu amava.
   

                            O Quadro


   Chegamos em Londres um pouco antes da hora do almoço, o que deixou o Sr. Smith muito satisfeito por ter conseguido che­gar no prazo estipulado por meu pai. Ao descer da carruagem olhei para a casa que estava em minha frente. A casa que meu pai morava era uma casa muito bonita. Era uma casa de dois andares, feita com tijolos pequenos na cor cinza, todas as janelas eram grandes e estavam fechadas, nada podia ser visto dentro da casa. Virei um pouco o corpo e olhei para a rua. Ela es­tava muito movimentada, a todo momento passavam carruagens e cavalos com os seus cavalheiros. Na calçada também passava muitas pessoas. Era tanta movimentação que fiquei um pouco tonta com tantas pessoas indo e vindo. Meu pai morava perto do centro de Londres. Naquele momento me dei conta do quanto tudo aquilo era diferente para mim, estava acos­tumada a viver em uma cidade com poucas pessoas, onde praticamente to­dos se conheciam. Senti que minha vida daquele dia em diante não seria mais a mesma.
      ― Vamos entrar, Srta. Canning. ― O Sr. Smith me olhou com um pe­queno sorriso nos lábios. Ele sabia que toda aquela movimentação era no­vidade para mim. Indicou o portão que eu deveria entrar.
       Entrei no portão ainda olhando a casa, subimos os poucos degraus que levava até a porta. Meu coração acelerou ao pensar que conheceria a casa que de agora em diante seria minha. Antes mesmo de chegarmos ao final da escada, a porta se abriu. Um mordomo apareceu e ficou parado ao lado da porta a nossa espera. O mordomo estava vestindo um traje preto impecável, nos olhava com um olhar muito sério.
       A casa por dentro estava escura. Olhei para o hall de entrada e vi poucos móveis, diferente da casa da fazenda dos meus avós que tínhamos que tomar cuidado com tantos móveis pelo caminho. Eu gostava porque a casa ficava mais aconchegante. Mas aqui, na casa do meu pai, tinha pouco móveis e eram bem afastados.
       ― O Sr. Canning está em casa, Alfred?
       ― Não, Sr. Smith. O Sr. Canning chegou mais cedo, mas saiu um pouco antes do senhor chegar ― relatou o Sr. Alfred sempre olhando em minha direção com olhos curiosos.
      ― Esta é a Srta. Jennifer Canning. ― O Sr. Smith olhou para mim. ― Srta. Canning, esse é o Sr. Alfred, é ele quem comanda tudo na casa, seu pai confia muito nele. O que a senhorita precisar é só pedir ao Sr. Alfred, ele sabe onde está tudo nesta casa.
       ― Seja bem-vinda, Srta. Canning, espero que tenha feito uma boa viagem. O Sr. Canning estava muito ansioso por sua chegada.
       ― Obrigada, Sr. Alfred.
       Ele estava tão ansioso por minha chegada que nem se deu ao trabalho de me esperar, pensei. Me senti um pouco decepcionada ao chegar e não encontrá-lo na casa.
       ― Sr. Alfred, mande a Srta. Claire levar a Srta. Canning até seu quarto. A Srta. Canning deve querer um banho depois dessa longa viagem que fizemos, e depois mande preparar algo para comermos. ― Virou-se em minha direção e disse: ― Preciso me ocupar com alguns assuntos importantes antes que seu pai volte. Nos veremos na hora do almoço.
       O Sr. Smith fez uma reverência e entrou em uma porta que ficava no corredor do hall.
       ― Irei chamar a Srta. Claire, ela a levará até seus aposentos e a ajudará com o banho.
       O mordomo partiu entrando em um outro corredor. Fiquei parada no hall sem saber o que fazer ou para onde ir. Olhei tudo ao redor, depois olhei para o teto, para as portas, tudo era tão novo para mim. Fui andando para o fundo do hall e vi uma escada em forma de caracol que levava ao andar de cima. Quando olhei para o meu lado direito, vi uma porta que estava entreaberta, ao olhar dentro da sala vi um pedaço de um quadro em uma parede. Caminhei lentamente e abri a porta.
       ― Olá... Tem alguém aí? ― perguntei mas não houve resposta.
       Como ninguém respondeu, entrei na sala. A sala era muito bem mobiliada, os móveis eram juntos um dos outros, havia bastante móveis naquela sala. À minha frente tinha uma lareira e em frente à lareira tinha três poltronas e cada poltrona tinha uma mesinha com lindos castiçais. No meu lado direito tinha uma mesa grande, com vários papéis em cima dela, duas cadeiras ficavam em sua frente. Do outro lado uma grande estante que ocupava toda a parede, e nela tinha vários livros.
       Olhei novamente para o quadro que ficava na parede em cima da lareira. Eu sabia quem ela era, já tinha visto aquela imagem em vários quadros na casa dos meus avós, Julie Wellington Canning, minha mãe. Mas os quadros que minha avó tinha da minha mãe eram todos dela ainda criança. Nesse quadro ela deveria ter a minha idade. Era tão jovem, tão bonita, era como se fosse um quadro meu, a não ser pelos olhos azuis, iguais aos dos meus avós. A cor dos meus olhos eram iguais ao do meu pai, um castanho bem claro. Tudo nela era perfeito, era impossível parar de olhar aquele quadro.
       ― Você parece muito com ela.
       Me assustei ao ouvir aquela voz atrás de mim. Virei e vi meu pai parado na porta olhando em minha direção. Eu me lembrava bem dele, era um homem muito charmoso, alto. Meu pai tinha a imagem de um homem importante e honrado. Tinha o cabelos pretos, curtos e partido ao lado, quando estava na fazenda o vi algumas vezes sem peruca, agora usava uma peruca preta pequena. Era um homem magro, andava muito ereto e com passos firmes.
       ― Desculpe se a assustei, não era minha intenção.
       ― Não me assustei ― tentei me acalmar, não queria gaguejar. ― Desculpe entrar assim, a porta estava aberta.
       Meu pai era um homem muito bonito, um pouco acabado pelo tempo, e talvez pelas preocupações, já que era um advogado. Ao vê-lo ali, lembrei da primeira vez que o vi na fazenda dos meus avós quando eu tinha quinze anos. Lembro que me senti intrigada com aquele homem que era meu pai, mas que eu não conhecia. O que eu deveria sentir por ele? A mesma pergunta me veio agora ao vê-lo novamente.
       ― Tudo bem, Jen, você pode entrar em qualquer sala que quiser, a casa também é sua.
       Ao ouvi-lo me chamar de Jen, me pareceu estranho, só meus avós me chamava assim. Olhei para o quadro.
      ― Eu só tinha visto quadros da minha mãe quando ela ainda era criança.
      ― Esse quadro foi pintado um ano depois que nos casamos, foi um presente de casamento dela.
       ― Dela para o senhor?
       ― Sim. ― Ele foi até a mesa e mexeu em alguns papéis. ― Ela estava grávida de você nessa época ― disse sem olhar para mim.
       Olhei novamente para o quadro. Sem saber explicar o porquê, me senti feliz em saber daquele detalhe. Ela parecia tão feliz no quadro, sorri. Voltei a olhar para o meu pai. Tinha parado de mexer nos papéis e olhava para mim.
       ― Seu sorriso é igual ao dela.
       Senti dor naquelas palavras, talvez ele ainda a amasse e sentisse sua falta.
       ― Srta. Canning.
       Nós dois olhamos para a porta ao mesmo tempo, uma jovem estava parada olhando em minha direção. Parecia muito espantada ao olhar para o quadro e  para mim e perceber a grande semelhança entre nós duas.
       ― Jen, essa é Claire. Ela será sua criada particular. O que precisar e só lhe dizer. Claire, leve minha filha até seu quarto.
       A criada fez uma mesura para o meu pai.
       ― Agora mesmo, Sr. Canning. Venha comigo por favor, senhorita, a levarei até seu quarto.
       Olhei para meu pai.
       ― Obrigada. ― O cumprimentei com um aceno de cabeça e saí da sala indo atrás de Claire.
       Segui a criada em silêncio. Quando chegamos no quarto, ela me deixou sozinha e foi preparar o banho.
       Olhei para o quarto que a partir daquele momento seria meu. Ele era menor que o meu quarto na fazenda, tinha poucos móveis, apenas uma cama que ficava no meio do quarto, uma penteadeira e uma tina, onde eu tomaria meu banho. No quarto tinha duas janela, mas que estavam fechadas e cobertas por pesadas e escuras cortinas, o que deixava o quarto na completa escuridão. Na fazenda, sempre pela manhã, Polly abria as corti­nas, sempre gostei de ver o céu ao acordar. Fui até a janela e abri as corti­nas com certa dificuldade, depois fui até a penteadeira e apaguei as velas que estavam no candelabro. O dia estava claro e quente, era um lindo dia de verão. As janelas eram bem grandes, o que deixava bastante claridade entrar, não precisava de velas durante o dia.
       Quando a criada entrou no quarto, olhou para a janela e ficou surpresa ao ver as cortinas abertas, mas não disse nada. Uma criada seguia Claire em silêncio, levava dois baldes. Quando a criada saiu, Claire veio me ajudar a tirar o vestido para que eu pudesse me banhar.
      ― A senhorita parece muito com sua falecida mãe, é tão bonita quanto ela.
       Eu a olhei e sorri, seu elogio tinha sido de coração.
       ― Obrigada, Claire.
       ― Eu sei que tudo deve ser muito diferente para a senhorita, mas com o tempo se acostumará com tudo.
       Claire me lembrava Polly, que sempre falava com calma e me tratava com carinho. Sempre sabia quando eu estava triste ou com problemas.  Sentiria muito a falta de Polly. Ao pensar no Sr. Valente, lembrei que tinha esquecido de brigar com meu pai por ele tê-lo vendido, mas de repente não tive mais vontade de brigar com ele.
      ― Sempre que precisar de algo é só tocar a campainha que virei imediatamente ― apontou para uma corda que tinha perto da cama.
       ― Eu tocarei.
       ― Venha senhorita, a água já está fria, vou ajudá-la a se vestir.
       Enquanto Claire me ajudava a colocar o vestido, lhe fiz uma pergun­ta:
       ― Claire, vem alguma mulher aqui por causa do meu pai? ― perguntei encabulada.
       ― A senhorita quer saber se seu pai tem alguma mulher? ― perguntou sem rodeio e olhou para mim.
       ― Sim, é isso mesmo que quero saber.
       ― Não, senhorita. Desde que vim trabalhar aqui, e isso já faz muitos anos, as únicas mulheres que vem aqui são as mulheres dos amigos do seu pai. A senhorita quer saber mais alguma coisa?
       ― Sim, por que as janelas estão todas fechadas?
       ― O Sr. Canning gosta assim, eu não sei bem o porquê. Acho que ele gosta do silêncio. É assim desde que cheguei aqui.
    ― Acredita que ele se importará se minha janela for aberta durante o dia? Gosto da claridade.
    ― Acredito que não senhorita, o quarto é seu. Quer que eu abra nos dias quentes?
    ― Quero sim, Claire.
       Enquanto Claire me ajudava a colocar o vestido, voltei a pensar em meu pai e em minha mãe. Será que meu pai ainda amava tanto minha mãe, por isso não tinha voltado a casar? Tinha tantas coisas que gostaria de perguntar a ele, mas ainda não me sentia à vontade para lhe fazer perguntas.
       Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida na porta. Claire foi atender, era o mordomo avisando que meu pai estava à minha espera para almoçarmos.
       ― A Srta. Canning já vai descer, Sr. Alfred.
       Quando terminei, desci com Claire que me levou até a sala de jantar. Como todos os outros cômodos a sala de jantar também era muito espaçosa, mas com poucos móveis. A sala tinha uma grande mesa que ficava no meio da sala e uma aparador longo no canto de uma das paredes. Meu pai e o Sr. Smith estavam à minha espera do outro lado da sala conversando, meu pai estava muito sério. Assim que entrei na sala os dois me olharam, mas era o olhar do meu pai que me deixava nervosa, eu ainda não sabia o que sentir por ele, e como me comportar em sua presença.
       ― Venha, Jen, sente-se aqui ― indicou a cadeira do seu lado direito.
       Quando cheguei perto da cadeira ele a afastou para que eu pudesse sentar. Os dois homens se sentaram e os criados começaram a nos servir. Meu pai disse logo depois da refeição começar.
       ― Confirmou a presença da minha filha nos próximos bailes que terá na cidade, Peter?
       ― Está confirmado, Sr. Lewis. E amanhã o Sr. Johnson virá com sua família para o jantar, para conhecer a Srta. Canning.
       ― Jen, amanhã poderia não usar esse vestido preto? ― olhou para meu vestido como se ele o desagradasse.
       ― Mas pai, estou de luto por minha avó.
       ― Tudo bem, querida, mas durante os bailes não usará um vestido preto, está bem?
       ― Mas isso não é certo.
      ― Não encontrará um bom marido escondida atrás desses panos pretos. Durante os bailes usará algo mais colorido, nos outros dias poderá usar esses vestidos pretos.
       ― Mas pensei que o senhor esperaria pelo menos um ano até me encontrar um marido, pelo menos até passar o luto por minha avó.
       ― Jen, você já tem dezoito anos, e ano que vem terá dezenove, cada ano que passar ficará mais difícil encontrar um bom partido para você.
       ― Por favor, pare de me chamar de Jen. Meus avós me chamavam assim ― disse irritada.
       ― Eu e sua mãe também a chamávamos assim.
       Disse e levantou-se, jogando o guardanapo na mesa. Olhei para o Sr. Smith que me olhava sério. Não queria ter magoado meu pai, mas ele me magoou primeiro não se importando com o meu sofrimento pela morte da minha avó.
       Quando terminei o almoço fui para o meu quarto e fiquei lá durante toda a tarde. À noite Claire veio para me levar para o jantar. Ao chegar na sala somente o Sr. Smith estava presente, ele disse que meu pai teve uma reunião de trabalho na casa de um cliente. Queria poder me desculpar com ele pelo o que tinha acontecido durante o almoço, mas não o vi mais naquele dia.
       Ao me deitar para dormir pela primeira vez naquela cama, eu chorei. Me sentia sozinha, sentia falta de todos da fazenda, principalmente da minha avó, sentia tanto a falta dela. Ainda não sabia o que pensar sobre o meu pai, não sabia o que sentir por ele. Por enquanto ele era só um estranho para mim.
       Tudo era tão diferente da fazenda. Todos me olhavam tão sério, diferente do modo como as pessoas na fazenda me olhavam, sempre brincando comigo, sorrindo. Tudo aquilo parecia um pesadelo. Tudo o que eu queria era que aquele pesadelo terminasse.



                 Conhecendo um Escocês


   No dia seguinte, depois que Claire terminou de ajudar a me ar­rumar, pedi a ela que me levasse até a cozinha para conhecer os outros empregados da casa. Chegando na cozinha me deparei com uma linda cozinha, muito bem organizada, bem ampla e arejada. Quando en­trei, todos pararam o que estavam fazendo e olharam para mim.
       ― Essa é a Srta. Jennifer, a filha do Sr. Canning. Ela veio para conhecer a todos ― disse Claire animada.
       ― Por favor, não quero atrapalhar.
       ― A senhorita não está atrapalhando, estamos preparando o café da manhã, a senhorita acordou cedo ― disse a mulher mais velha. ― Eu sou a Sra. Rose, a cozinheira da casa.
      ― É um prazer conhecê-la, Sra. Rose. Eu sempre acordava bem cedo quando estava na fazenda dos meus avós, gostava de ajudar na cozinha. Aprendi muitas coisas com a Sra. Bell, a cozinheira da fazenda.
       ― A senhorita sabe cozinhar? ― perguntou a Sra. Rose incrédula.
       ― Algumas coisas.
       ― Eu sou Kevin, eu ajudo minha mãe.
       Olhei para baixo e vi um menino franzino, com grandes olhos verdes olhando para mim, deveria ter uns sete anos.
       ― Como vai Kevin, é um prazer conhecê-lo. E quem é a sua mãe?
       ― Sou eu, senhorita. ― Olhei para uma moça que estava no fundo da cozinha. Era a moça que tinha ajudado Claire com os baldes para o meu banho. ― Eu sou a copeira, senhorita, me chamo Mary.
       ― É um prazer conhecê-la, Sra. Mary, tem um filho muito bonito.
       ― Obrigada, senhorita ― olhou para baixo.
       Percebi que a Sra. Mary era uma mulher muito tímida, deveria ter a idade do Sr. Smith. De repente o Sr. Alfred entrou na cozinha e todos começaram a fazer suas tarefas, percebi que todos o respeitava.
       ― Srta. Jennifer, o que faz aqui na cozinha, deseja algo?
       ― Não Sr. Alfred, não desejo nada, só vim até a cozinha para conhecer a todos.
       ― Eu ia procurá-la para dizer que seu pai e o Sr. Smith tiveram que sair cedo e não tomarão o café da manhã com a senhorita. Terá que tomar seu café sozinha. O café logo será servido.
       ― Se meu pai e o Sr. Smith não estarão em casa para o café, então posso tomar meu café aqui mesmo. Não precisam colocar a mesa só para mim.
       Todos me olharam espantados. Eu sabia o que eles deveriam estar pensando, uma dama não toma seu desjejum na cozinha junto com os empregados, mas eu já tinha feito isso tantas vezes na fazenda, ali não se­ria diferente.
       ― A senhorita tem certeza sobre isso? ― perguntou o Sr. Alfred.
       ― Tenho sim, fiz isso muitas vezes na fazenda, acordava cedo e tomava meu café na cozinha e depois saía para cavalgar.
      ― Se a senhorita tem certeza, então tudo bem. ― O Sr. Alfred olhou para todos. ― Então arrume a mesa aqui mesmo na cozinha para a Srta. Jennifer tomar seu café.
       Todos rapidamente arrumaram a mesa o mais simples possível. Enquanto tomava o café, conversei com todos e soube um pouco mais sobre a história de cada um.
       Quando terminei o café fui até o escritório do meu pai para pegar um livro, aproveitei e fiquei por lá. Li o livro sob o olhar protetor da minha mãe. Momentos depois meu pai entrou em seu escritório.
       ― Que bom encontrá-la aqui, Jen. Eu ia mandar Alfred chamá-la.
       Deixei o livro sobre meu colo.
       ― O senhor deseja falar comigo?
       ― Gostaria de lhe fazer um pedido.
       ― Que pedido?
       ― Quero que vá para o seu quarto e fique lá até eu mandar chamá-la.
       ― Fiz algo que o desagradou?
       ― Não, Jen. É que vou receber uns amigos e não quero ser incomodado.
       ― Eu irei para o meu quarto. Posso levar o livro comigo?
       ― É claro, querida. Lembre-se que a casa também é sua, e tudo o que está dentro dela.
       Levantei e fui para o meu quarto.
       Por causa da reunião do meu pai tive que almoçar sozinha em meu quarto. Estava fazendo uma tarde muito bonita naquele dia, era uma linda tarde de verão. Uma tarde linda demais para ficar trancada em meu quarto. Talvez a reunião já tivesse terminado e meu pai tivesse esquecido de mandar me avisar. Resolvi descer.
       Quando cheguei no final da escada, ouvi vozes vindo do escritório, ao que parecia a reunião não tinha terminado, resolvi voltar para o quarto e esperar que alguém fosse me chamar, não queria atrapalhar a reunião
       ― Muitos que antes estavam do nosso lado, agora não estão mais. Dizem que está demorando muito para acontecer. O governo está sempre prendendo alguém, estão ficando com medo. O príncipe também anda muito impaciente com a demora.
       ― Precisamos de mais tempo para organizar tudo e conseguir mais dinheiro. ― Ouvi a voz do meu pai.
       Olhei para a escada e pensei. Príncipe? De que príncipe eles estariam falando?
       Voltei a olhar e vi que ele estava parado com os braços cruzados em frente ao peito, seu semblante era de preocupação. Tinha o porte de um líder. Seus braços eram tão fortes que a manga do seu casaco estava muito apertada, marcando seus músculos fortes. Eu perguntei a mim mesma em pensamento. E se ele fosse o meu pretendente? E se nos casássemos, será que seríamos felizes? Conseguiria fazer com que ele me amasse todos os dias e cada vez mais? Eu o amaria a cada dia mais? Por ser tão forte, ele me protegeria? E por ser tão lindo, será que ele teria muitas amantes, e me faria infeliz? Ele é tão lindo, talvez eu o escolhesse para ser o meu marido. Ao pensar nisso sorri.
       De repente ele olhou para a porta e rapidamente me escondi atrás dela, corri para debaixo da escada e fiquei quieta. Ouvi o barulho da porta ao abrir e passos no corredor.
       ― O que foi?
       Reconheci a voz do meu pai.
       ― Tinha alguém aqui.
       ― Não tem ninguém aqui, rapaz. Na casa só tem minha filha que está em seu quarto e os criados que não viriam aqui. Vamos voltar para a sala.
       Esperei um pouco até ter certeza que eles tinham entrado na sala e subi para o meu quarto. Ao chegar no quarto sentei na cama e coloquei a mão em meu coração, estava acelerado pela aventura. Quase tinha sido pega olhando pela porta. Comecei a ri da aventura que tinha acabo de ter. Deitei na cama e olhei para o teto. Pensei no homem que vi naquela sala, nunca pensei tanto em um homem como estava pensando nele, eu precisava saber quem era aquele homem. Será que ele é casado? De repente a porta abriu e Claire entrou, levei um susto e comecei a ri. Claire me olhou sorrindo.
       ― O que houve, Srta. Canning?
       ― Eu estava tão distraída que me assustei com sua entrada.
       ― Desculpe senhorita, não queria assustá-la.
       ― Está tudo bem, já passou.
       ― O Sr. Canning mandou avisá-la que é para a senhorita se arrumar porque o Sr. Johnson e sua família chegarão a qualquer momento.
       ― Quem são os Johnson, Claire?
       ― O Sr. Johnson é primo do Sr. Canning, primo da senhorita também. O Sr. e a Sra. Johnson tem três filhos. Que vestido a senhorita usará.
       ― Aquele que está na cadeira ― apontei para o vestido.
       ― Mas senhorita, ele é preto!
       ― Estou de luto, Claire. Só usarei um vestido de outra cor quando for aos bailes, fora isso eu continuarei de luto.
       ― Seu pai não gostará nada disso.
       ― Eu me entendo depois com ele.
       Horas depois desci para esperar pela família Johnson. Quando entrei na sala meu pai olhou para mim e depois para o vestido, não disse nada, mas vi que ele não gostou.
       Quando a família Johnson chegou as apresentações foram feitas, depois fomos para a sala de estar para que todos me conhecessem melhor.
       O Sr. e a Sra. Johnson eram pessoas muito agradáveis. A Sra. Johnson estava sempre sorrindo, imaginei se minha mãe também seria assim, uma mulher agradável e sorridente. Ester Johnson, a filha mais nova dos Johnson, não parou de falar desde que foram feitas as apresentações. Ela me puxou para um canto da sala e começou a tagarelar sobre várias coisas. Es­ter era baixa, um pouco gordinha, muito sorridente como sua mãe. Tinha cabelos castanhos claros, como de sua mãe. Os homens não saberia dizer, pois os três estavam usado perucas.
       ― Estou tão ansiosa para o nosso primeiro baile. Você já escolheu o vestido que usará? Será que vamos conhecer os nossos pretendentes logo no primeiro baile? Não vejo a hora de chegar o baile e dançar com todos os rapazes de Londres. Você também está ansiosa?
       ― Um pouco...
       ― Eu quase não durmo de tão ansiosa. E se ninguém quiser dançar comigo, prima? Se isso acontecer acho que morro.
       ― Tenho certeza que isso não acontecerá, prima Ester.
      ― Tenho tanto medo que isso aconteça. Eu quero dançar muito. Você é tão linda, prima, que não terá esse problema, eles farão fila para dançar com você.
       ― Coitado dos pés desses rapazes ― implicou James com sua irmã.
       James é o filho mais velho dos Johnson. Um homem muito bonito e com uma expressão séria, sempre me olhando pelo canto dos olhos. Ele é o tipo do homem que minha avó sempre me aconselhava a manter distância, ela dizia que tipos como meu primo James sempre se casava depois de um grande escândalo. James era um pouco mais alto que eu, tinha um  rosto marcante. Como sua irmã, ele também tinha olhos pretos. No começo me senti um pouco desconfortável em sua presença, ele não parava de me olhar. Mas depois resolvi não me importar com os seus olhares, ele só deveria estar curioso a meu respeito, como eu estava curiosa a respeito de toda sua família.
      ― James é sempre tão desagradável. Parece que os homens quando estão apaixonados ficam todos bobos. ― Ela olhou para mim e me confi­denciou baixo, mas não tão baixo que seu irmão não ouvisse. ― Ele está apaixonado por Lucy Poynter. Papai e o pai dela estão conversando sobre a melhor data para que eles fiquem noivos, o casamento será ainda esse ano para abafar o escândalo.
       ― Você é uma menina muito intrometida, irmãzinha. Não devia ficar chateando nossa prima com suas tolices.
       ― Eu não sou menina, e também não sou chata. ― Ester cruzou os braços e ficou emburrada.
       Olhei para James e vi que minha avó estava mesmo certa.
      ― Meu Deus! Mas eles não esperaram nem o final do jantar para começarem suas brigas. ― Jones sorriu para mim. ― Não se preocupe, prima, eles são assim mesmo, estão sempre brigando. Fora do normal seria eles não brigarem. Com o tempo você se acostumará com tudo isso.
       Lhe devolvi o sorriso. Meu primo Jones tinha um rosto gordinho, como o seu corpo. O seu rosto gordinho lhe dava uma aparência de menino. Diferente de James seus irmãos não eram bonitos, mas tanto Ester como Jones pareciam muito simpáticos.
       ― Venha, prima. Deixe os dois brigando, vamos ver a noite.
       Jones me levou para a varanda da sala que estava aberta especialmente por causa do jantar. A noite estava fresca, não ventava.
       ― Você gosta de cavalgar, prima Jennifer?
       ― Gosto muito, Jones. Na fazenda dos meus avós era o que eu mais fazia. Sempre que dava eu fugia das minhas obrigações de menina e saía cavalgando, e quando chegava levava a maior bronca dos meus avós, mas valia apena. ― Fiquei muito feliz com a pergunta de Jones. ― Eu tinha um cavalo, seu nome era Sr. Valente. Ninguém conseguia montá-lo, só eu.
       ― E por que não o trouxe para Londres?
       ― Eu não pude ― olhei para o céu ao lembrar do momento que me despedi do Sr. Valente, foi um momento muito triste. Voltei a olhar para Jones. ― O cavalheiro que comprou a fazenda, comprou com tudo dentro. Os criados conhecem bem o gênio que ele tem, cuidarão bem dele.
       ― Parece ser um cavalo bem teimoso. ― Rimos. ― Se você quiser podemos cavalgar no Park Green, gosta de apostar corrida?
       ― Claro que gosto ― disse animada com o convite. ― Eu ficaria muito feliz em voltar a cavalgar.
       ― Eu e que ficarei feliz em tê-la como companhia. Ester não gosta de cavalgar comigo, ela diz que eu corro muito. E James e papai nunca tem tempo para cavalgar. Falarei com seu pai se posso passar aqui amanhã para levá-la para cavalgar.
       Fiquei tão feliz com o convite de Jones que não me contive e o beijei no rosto. Ele me olhou espantado. Ficamos em silêncio por alguns instantes e depois caímos na gargalhada. Eu tinha certeza que era o começo de uma grande amizade.
       Voltamos para sala, estavam todos na mesmas posições. Olhei para o canto onde estava Ester e James e vi que eles ainda continuavam discutin­do.
       ― Primo Lewis, o jantar não será servido? ― perguntou Jones sem nenhuma cerimônia.
       ― Jones... o que é isso, meu filho? Isso não são modos de um cavalheiro ― ralhou sua mãe.
       ― Mãe... estou com fome.
       ― Quando é que você não está com fome, Jones? ― James veio do seu canto para implicar com seu irmão mais novo.
       ― Não brigue com Jones, prima Charlotte. ― Meu pai virou-se para Jones. ― O jantar já será servido, Jones. Só estamos esperando dois amigos.
       ― Quem é, primo Lewis? ― perguntou Ester curiosa.
       ― Eu só espero que não seja nenhum escocês, primo.
       ― Desculpe decepcioná-la, prima Charlotte, mas meus amigos são es­coceses ― disse sorrindo.
       A Sra. Charlotte olhou para seu marido muito séria.
       ― Eu espero que vocês não conversem sobre aquele assunto durante o jantar. Estamos aqui para conhecer a prima Jennifer.
       O Sr. Johnson foi até sua esposa, que estava sentada, e colocou a mão em seu ombro para acalmá-la.
       ― Não se preocupe, minha querida, hoje só conversaremos sobre a chegada de nossa querida prima Jennifer. ― Eles se olharam e sorriram, depois olharam para mim. Sorri sem entender direito aquela conversa.
       Olhei aquela linda cena e depois olhei para o meu pai que estava conversando com James. Será que ele e minha mãe também se tratavam assim com tanto carinho? Talvez algum dia fôssemos bastante amigos para conversarmos sobre isso, gostaria muito de saber como ele tratava minha mãe. E o que seria aquele assunto que a Sra. Johnson não queria que eles falassem durante o jantar? Fiquei muito curiosa para saber, depois tentaria saber com Jones, ele parecia uma pessoa que não me esconderia nada.
       Nesse momento alguém bateu à porta. Deveria ser o casal de escoceses que meu pai estava esperando. Estava ansiosa para conhecer esses escoceses. Nunca antes tinha visto um escocês, apesar de morar quase na fronteira da Escócia com a Inglaterra. Meus avós às vezes falavam sobre eles, sempre diziam como eles eram bárbaros e ignorantes, tudo o que pensavam era em brigas, por isso sempre estavam em guerra com a Inglaterra. Eles diziam que os homens usavam saias em vez de calções como todos os homens. Eu me lembro que na época eu achei engraçado ao pensar em homens usando saias como nós mulheres. Meu avô dizia que as mulheres escocesas eram feias e burras, e que todos os escoceses eram mau cheirosos. Eu não podia entender como meu pai podia ter amigos assim. Durante muito tempo fiquei curiosa para ver um bárbaro escocês, mas o tempo foi passando e a curiosidade também, mas agora estava curiosa novamente, estava muito ansiosa por aquele encontro.
       Todos ficaram em silêncio esperando pelo casal de escoceses. Ouvi passos vindo do corredor, eram passos firmes e fortes. Meu coração quase parou ao ver os dois escoceses que pararam na entrada da sala. Não era um casal como eu estava esperando, eram dois homens, dois bárbaros escoceses. Meu coração acelerou ainda mais ao ver que um dos escoceses era o homem que eu tinha visto mais cedo no escritório do meu pai. Ele esta­va ainda mais lindo naquela noite.
       Pude perceber que todos na sala já os conheciam. Começaram os cumprimentos assim que eles entraram na sala. Tentei me acalmar, mas meu coração estava muito agitado com a presença daquele homem. Ele era tão alto e forte que parecia ocupar todo o espaço da sala. Seu amigo não era tão alto e forte como ele, mas também ocupava seu espaço na sala, e também era muito bonito.
       Meu pai ficou ao meu lado e me apresentou todo orgulhoso aos dois homens. Eles eram tão alto que tive que olhar para cima.
      ― Essa é minha filha Jennifer. Jen, esses são grandes amigos ― apontou para o de cabelos escuros. ― Esse é o Sr. Cullen MacLeod, e esse é o Sr. Edric MacLeod ― apontou para o homem loiro.
      ― É um grande prazer conhecê-la, Srta. Jennifer ― disse o Sr. Edric com sua voz rouca e forte, sem sorrir.
       ― O prazer é todo meu, senhor.
       O Sr. Cullen também me cumprimentou, mas diferente do seu amigo, ele sorriu. Os dois eram os homens mais altos da sala.
       ― Será que agora podemos comer? ― perguntou Jones e todos riram.
       Passamos para a sala de jantar.
       ― Primo Lewis, a prima Jennifer poderia sentar ao meu lado? ― perguntou Jones todo dengoso.
       ― Eu também quero que a prima Jennifer fique ao meu lado ― choramingou Ester.
       ― Está tudo bem, tudo pode ser arrumado ― disse meu pai tranquilamente.
       Os lugares agradou a todos. Do lado direito do meu pai ficou o Sr. e a Sra. Johnson, depois Ester, eu e Jones. Do lado esquerdo ficou meu primo James, o Sr. Smith, o Sr. Edric e o Sr. Cullen. Eu fiquei justamente em frente ao Sr. Edric MacLeod, o que me fez ficar mais nervosa.
       O jantar transcorreu tranquilamente com assuntos variados. Durante minhas conversas com os meus dois primos, às vezes olhava para os dois escoceses que estavam à minha frente. Eram tão diferentes de como meus avós os descreveram, eram tão civilizados.
       Eles não estavam de perucas como os outros homens, mas estavam muito bem vestidos, percebi que seus casacos eram novos, pareciam que tinham sido comprados especialmente para aquele jantar. Eles tinham muita educação à mesa, pegavam os talheres como deveriam ser usados. Uma vez minha avó disse que os escoceses comiam com as mãos, que eles não sabiam como usar os talheres. Ao olhar para eles, notei que eles pareciam como qualquer inglês, a não ser pelo modo como falavam que os denunciavam que não eram ingleses.
       O Sr. Cullen MacLeod era moreno, com cabelos castanhos escuros abaixo dos ombros, mas estavam preso por uma fita de cetim. Seus olhos eram castanho escuro com uma grossa sobrancelha. Tinha um olhar meigo que parecia sempre sorrir, quando me olhava levantava as sobrancelhas, o que me dava vontade de ri, pois esse seu jeito gentil não combinava com o seu porte. Era um homem muito bonito, tinha uma rala barba castanha. O Sr. Edric também era um homem muito bonito, o homem mais bonito que já tinha visto em toda minha vida. Seus cabelos eram loiros claros, seu cabelo também ia abaixo dos ombros e também estavam presos por uma fita de cetim, como do Sr. Cullen. Seus olhos eram de um verde tão claro, como nunca tinha visto antes em minha vida, seu nariz arrebitado era perfeito. Tinha uma barba rala que combinava com a cor dos seus cabelos, tinha os lábios finos e rosados, com um queixo quadrado, igual ao formato do seu rosto. Seus ombros eram largos, mesmo com toda aquela roupa eu podia ver que seu peito era forte, cada vez que ele respirava eu podia ver que seu colete se esticava. Era quase impossível não olhar para ele.
       ― Prima, é feio ficar encarando as pessoas ― disse James sorrindo.
       Me assustei com o comentário de James. Fiquei envergonhada por alguém ter visto como eu prestava atenção aos escoceses. Abaixei a cabeça envergonhada, senti minhas bochechas queimarem.
       ― Não se preocupe senhorita, ser observado por uma moça tão linda, não é nada ruim ― disse o Sr. Cullen e todos riram, menos o Sr. Edric e meu pai que estavam muito sérios.
       Meu pai sabia o que meus avós pensavam sobre os escoceses, ele sabia o que deveria estar passando por minha cabeça, e pelo modo que me olha­va vi que ele não estava nada satisfeito com aquilo. Naquele momento tudo o que eu queria era que aquele jantar terminasse.
       Ao olhar rapidamente para o Sr. Edric, vi que seu olhar era o mesmo que do meu pai. Percebi que ele não gostava de ser observado como se fosse uma aberração, mesmo que fosse por uma linda moça, como disse o Sr. Cullen.
       Meu primo Jones veio ao meu auxílio e perguntou ao meu pai:
       ― Primo Lewis, eu queria lhe fazer um pedido.
       ― Pois então faça, Jones.
       ― Gostaria de saber se posso vir amanhã buscar minha prima Jennifer para fazermos uma passeio a cavalo? Ela me disse que gosta de cavalgar. Eu poderia levá-la para conhecer alguns parques da cidade.
       Senti o olhar do escocês Edric em cima de mim, eu não queria olhar para ele, mas como se seu olhar me atraísse, virei e o olhei. Seu olhar era hipnotizante, apertei a saia do meu vestido por baixo da mesa, aquele olhar me deixava nervosa. Com muito esforço desviei o olhar.
       ― Você gostaria, Jen? ― perguntou meu pai.
       ― Gostaria. Na fazenda eu cavalgava quase todos os dias. Estou algum tempo sem cavalgar. Ficaria muito feliz de cavalgar novamente.
       Senti que o Sr. Edric continuava a me olhar. Disfarcei e olhei em sua direção, pude ver que seu amigo lhe deu uma cotovelada para que ele parasse de olhar em minha direção. Tive que disfarçar um pequeno sorriso que brotou em meus lábios.
       Depois do jantar passamos para a sala de estar. Vi minha prima em um canto e fui falar com ela.
       ― O que faz aqui sozinha, Ester?
       ― Admirando ― disse sorrindo.
       Olhei para onde ela estava olhando, ela olhava para o Sr. Cullen.
       ― Ele é lindo não é? Um homem perfeito para flertar.
       ― Seu pai nunca deixaria que se casasse com ele.
       Ela me olhou espantada.
       ― E quem disse que quero me casar com ele, prima. Os escoceses não são para casamento, só para flertes. Ainda tem muito o que aprender prima.
       Jones juntou-se a nós e começou a falar sobre os planos para os nossos passeios. Sempre que olhava para Ester ela estava olhando para o Sr. Cullen, que também a olhava. Percebi que ele estava gostando dos olhares de Ester. Olhei para o Sr. Edric, mas ele não olhou mais para mim. Quem não tirou os olhos de mim foi meu primo James, era como se ele quisesse me dizer algo, mas eu não consegui entender.
    Momentos mais tarde, deitada em minha cama, me sentia feliz por aquele jantar ter terminado. Gostei de conhecer a família Johnson, gostei muito de conhecer meus primos, principalmente Jones e Ester. Também gostei de conhecer os escoceses, eles eram bem diferentes do que tinha imaginado. Sorri ao pensar naquilo. Estava feliz que amanhã voltaria a ca­valgar. Sentia muita saudade do Sr. Valente. Adormeci pensando nas aven­turas que vivi com o Sr. Valente na fazenda.
:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

Um comentário:

  1. Oi Márcia, parabéns, estou curiosa para ler o resto da história! Vou ter que comprar!
    Bjs,
    Anna
    http://dicasdefrancês.blogspot.com

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