quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Conto: O paradoxo final - Brian Oliveira Lancaster



   Estava lendo um texto de um amigo no site Recanto das Letras. Quando terminei a leitura, resolvi dar uma olhadinha pelo site. Abri a página de contos. Li alguns contos e gostei muito. Então, resolvi transcrever um conto que me impressinou muito por sua escrita e por seu tema.

   Espero que todos gostem e deixem seus comentários a respeito do conto. No final da postagem deixarei o link para quem quiser conhecer o autor e outros de seus contos.


O paradoxo final

“No século XXV, Isaque Wells inventou a primeira viagem no tempo prática. No século XXIV, a viagem no tempo deixou de existir...”.

A esfera metálica estava revestida por um novo material extremamente duro, porém, dotado de uma leveza incomum. Era necessário que o propenso viajante estivesse bem protegido enquanto as forças externas gravitacionais atuassem. Acelerar a matéria humana à velocidade da luz era bem diferente dos experimentos realizados com maçãs.

Sua ideia principal era viajar para o futuro – o que tecnicamente já fazemos de forma automática no dia a dia, só que em uma escala extremamente pequena, dependendo da rotação do planeta e dos cálculos herdados dos árabes, gregos e romanos.

Isaque seria o próprio viajante. Queria ver com seus próprios olhos o resultado e influência que sua invenção traria ao novo mundo. Por isso o relógio atômico interno marcava “Século XXX”.

A plataforma de lançamento estava localizada no último andar dos famosos arranha-céus suspensos. Uma rede intrincada e complexa de estruturas construídas quilômetros acima do solo transformou o céu da Cidade Central no conhecido Parque Residencial Celeste. Isaque conhecia bem os efeitos teóricos da viagem. Em aproximadamente quinhentos anos, aqueles prédios poderiam nem existir. O deslocamento do planeta o impedia de executar cálculos precisos, mas se estivesse acima de tudo, não corria o risco de materializar-se dentro de uma parede – uma tragédia que certamente entraria para a história.

Entrou na esfera sob os olhares curiosos de outros cientistas, militares, civis e robôs. Ordenou que todos se afastassem. A estática começou a percorrer a plataforma, deixando os rapazes e moças literalmente de cabelo em pé. Uma nuvem se formou em cima do transporte. Por sorte, e um pouco de precaução, já havia pensado nisso. A plataforma se encontrava isolada quando dois raios atingiram a esfera. Desapareceu diante de todos após um clarão de luz.

(...)

Chegou a uma época em que a viagem no tempo havia se tornado comum. Devido a este fato em particular, ninguém deu atenção à sua chegada. O prédio parecia o mesmo, contrariando suas expectativas. No entanto, olhando ao redor e para o horizonte, era possível avistar uma área completamente desolada. Abordou um transeunte.

– O que houve ali?
– Você não sabe? Ah... Você deve ser do presente. Isso tudo é culpa das novas leis. É proibido viajar ao passado, se é que alguém já conseguiu, sob pena de morte.
– Morte?
– É. Você não quer alguém indo e vindo e alterando a história a todo o momento, não é? Ironicamente já poderiam ter feito isso e ninguém se lembraria do fato na nova linha temporal.
– Certo. Mas o que isso tem a ver com o desaparecimento de um bairro inteiro?
– Ora... Se todo mundo vai para o futuro assim que deseja e está tecnicamente proibido de voltar, quem cuida do presente? Aquela era uma terra fértil e continha um dos mais belos jardins suspensos já visto pelo homem. Com todo o pessoal se mandando para o futuro, acabou se deteriorando com o tempo.
– E você resolveu ficar?
– É claro, meu velho. Ter tecnologia em mãos não significa automaticamente que você é mais inteligente.
– Em que sentido?
– Simples. Se eu desistir de realizar a manutenção desse prédio junto com minha equipe, a qualquer momento, no futuro, ele deixará de existir. Nós temos mais poder em mãos do que esse pessoal que fica “pipocando” por aí. Posso alterar o futuro apenas com minha vontade e nem preciso de uma máquina para isso.

Isaque se afastou e permaneceu pensativo. Não havia calculado essas probabilidades e suas implicações. Aliás, não era esse o futuro que tanto imaginava. Mas estava decidido a ver até onde chegaria sua tão estimada invenção. Não era possível que ninguém tomasse providências quanto a este disparate.

Voltou para a esfera e avançou mais cinco anos...

Encontrou o mesmo responsável pela manutenção, cinco anos mais velho.

– Ah... Você de novo. Não cansou ainda?
– Quantas pessoas já passaram por aqui nestes anos?
– Pouquíssimas. Os saltos costumam durar mais de um século.
– Ninguém percebeu ainda o que está acontecendo?
– Já. Mas, assim como o senhor, esperam alguém tomar providências e não fazem nada. A não ser ir mais para frente ver se o problema foi resolvido.
– Não entendo como você sabe tanto...
– Fui um dos primeiros a chegar aqui.

Alguém precisava fazer algo. Ele era o inventor daquela máquina. Daria um jeito. Entrou novamente e em uma chuva de estática avançou cem anos.

(...)

O prédio aparentava ser a única estrutura que se mantinha incrivelmente intacta durante estes seiscentos e cinco anos. Desligou os sistemas e saiu. Olhou atentamente ao seu redor. Não acreditava no que estava vendo. Com lágrimas nos olhos, ajoelhou-se em seguida.

Todo o horizonte, sem exceção, havia se tornado um imenso deserto. Muitas esferas se encontravam abandonadas ou em estado de decomposição, totalmente recobertas pelas areias do tempo. Não havia sobreviventes. Definitivamente era o último homem da Terra. Esmurrou o chão.

– Não devia ter inventado essa maldita máquina! – gritou para a tempestade que se aproximava.

E, como se um raio tivesse caído duas vezes no mesmo lugar, teve uma ideia. Havia uma saída. Uma única. Aquela seria uma viagem dolorosa, mas era preciso. Afinal, a culpa principal recaia sobre si mesmo. Não poderia voltar ao passado, mas poderia esticar o campo temporal da esfera para que esta alcançasse o objetivo e, em seguida, fosse atirada para o futuro, como um “estilingue do tempo”.

Refez os cálculos e entrou. Aquela tempestade de areia que se aproximava com certeza destruiria tudo ao seu redor. Partiu.

No século XXIV, um proeminente e respeitado cientista esboçava suas primeiras teorias que seriam colocadas em prática no ano seguinte. O fato mais estranho é que, naquele mesmo ano, ele desapareceu.

Testemunhas oculares afirmaram que durante uma estranha tempestade elétrica ele foi abduzido e levado embora em uma esfera metálica. Obviamente estes relatos não foram levados a sério.

“No século XXIV, Isaque Wells inventou a primeira teoria de viagem no tempo prática. Neste mesmo século, ele deixou de existir...”.
 
 
 
:) :( ;) :D :-/ :P :-O X( :7 B-) :-S :(( :)) :| :-B ~X( L-) (:| =D7 @-) :-w 7:P \m/ :-q :-bd

18 comentários:

  1. Perfeito!
    E é tão bom quando lemos e saimos desse mundo real e vamos a outro que nos faz pensar demais sobre o real e irreal!
    Adorei!
    bjs
    Ritinha

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  2. Olá, Ritinha!

    Quando li esse conto, eu simplemente adorei. Fiquei maravilhada com tudo o que ele escreveu. Então, quis dividir essa descoberta com os meus amigos.
    Que bom que gostou.

    bjs

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  3. Oi Marcia!!!

    Estava viajando minha amiga. Aproveitando um pouquinho a vida kkkkk.
    Que lindo o conto que você está nos presenteando.
    É puro paradoxo kkkkkkk.
    Vou visitar a pagina do autor.
    E aí minha amiga, como vai o seu projeto do livro de contos com mais algumas autoras?
    Já publicou?

    Bye

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    1. Olá Lídia,

      Que bom que voltou, senti sua falta. Eu adorei o conto, Lídia. Por isso o postei aqui. Estou feliz em ver que bastante pessoas gostam de contos. Tive um bom percentual de visitas nessa página. O projeto está quase no final, Lídia. Em breve vou poder apresentá-lo aqui. Estou super ansiosa para isso.

      Bjs

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  4. Olá,

    eu tenho alguns contos que escrevo desde a minha adolescencia.
    esse é um ótimo conto.

    Abçs

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    1. Olá, Janaína!

      Se quise eu posso publicar alguns aqui no meu blog é só me enviar. Ok?

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  5. Adoreiii!!!!

    Eu adoro ler contos. tem alguns livros de contos que releio, releio, releio kkkkk.
    Acredito que todos, em algum momento, desejou criar uma maquina do tempo e apagar alguma besteira que fez kkkk.
    Muito bom o conto.

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    1. Olá, Rosana!

      Eu também adoro contos. São histórias bem rapidinhas, rsrsss. Concordo com você, às vezes dá mesmo vontade de voltar no tempo e mudar alguma burrada.

      Bjs

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  6. A Narrativa do conto nos faz viajar junto com o autor em sua mente brilhante.

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    1. Olá, Rubens!

      É verdade, quando o conto é bom, conseguimos ir onde o autor quer nos levar com sua história.

      Bjs

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  7. Bom dia Marcia!!

    Esse é um ótimo conto de ficção.
    Foi uma boa ideia colocar contos de outros autores em seu blog pessoal.
    Também sou autora, mas começando agora. Tenho alguns contos.
    Gostaria de saber se você pode colocá-los em seu blog.
    Voltarei a visitar seu blog para saber sua resposta.
    Se topar, enviarei por email.

    Beijoooss!!!!!

    Luana G.

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    1. Olá, Luana!

      Eu também estou começando agora. Será um prazer colocar seus contos aqui no meu blog. Me envie por email, Ok?

      marcia_pferreira@hotmail.com

      Bjs

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  8. Blog lindo *-*, parabéns!
    Viajo nos contos...

    to seguindo, visita la:
    http://ohcabelo.blogspot.com.br/
    bjbj

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    1. Olá Talita!

      Eu também, tem contos que me fazem viajar. Vou visitar sim.

      Bjs

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  9. Adorei o conto, sou super fã desse site.

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  10. Olá. Estou passando por aqui para agradecer pela divulgação deste conto. Li no seu perfil ali do lado que escrever para você é um momento mágico. Para mim é uma terapia e tanto. Sempre gostei de extrapolar de alguma forma os sentimentos. Vejo que faz o mesmo. Desejo sucesso por este universo alternativo mais conhecido por "internet".

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    1. Olá, Brian!

      Foi um prazer colocar seu conto aqui no meu Blog, ele é muito bom. Foi uma das postagens mais vistas do meu meu blog. Isso mostra que as pessoas gostam de ler contos. Por isso vou continuar com a coluna de contos.

      bjs

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Obrigada pela visita e fique à vontade para comentar. Assim que der responderei seu comentário. Deixe a URL do seu blog para que eu possa lhe fazer uma visitinha. Beijos!!!!